quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Paradoxum - Capítulo 1: ACORDAR

Para quem acompanhou e não acompanhou, comecei a escrever um história com a temática zumbi. Os capítulos que eram postados no GOTH, serão postados aqui. Houveram algumas mudanças tanto no enredo como no próprio nome da série. Se já leu, recomendo uma releitura a partir dos próximos capítulos, se não leu, leia, e bons pesadelos.

ESSA SÉRIE É DE TOTAL AUTORIA MINHA.
Sinopse: O jovem Dood acorda em meio a sacos de lixo sem lembrança alguma de seu passado. Ele precisa de ajuda para descobrir algo sobre si mesmo. Talvez uma inocente senhora bem intencionada poderia ajudá-lo. Talvez , ele, não possa ajudar essa inocente senhora...

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ACORDAR

Eu estou morto e minha especialidade é a morte. A vida foi cruel comigo e a morte mais ainda. Sou um tanto quanto cético, e isso representa uma grande problema para mim.

Obviamente meu nome não é Dood, mas é assim que costumavam me chamar. Eu não sei meu nome real. Se perdeu no meu passado, provavelmente juntos com os corpos e pedaços da minha própria carne que deixei para trás. Antes que se perguntem, eu não sou um viajante do futuro - antes fosse. Estou estagnado aqui no presente. É exatamente isso que está pensando. O que vocês ainda-humanos chamam de "Apocalipse" começou. Aposto que querem saber como e onde começou. Infelizmente eu não me lembro, mas posso garantir que já faz quase cinco décadas. Pelo menos esse é o tempo que estou vagando por aí em busca da morte, enquanto ela foge vorazmente de mim.

A memória mais antiga que tenho foi a de acordar em meio a sacos de lixo. O cheiro era horrível. Não era o lixo. Era eu. Minha carne estava esbranquiçada e enrugada, com um tom amarelo esverdeado. Sob minha pele pareciam que alguns pequenos bichos se movimentavam, me preparando para ser sua nova casa. Eles estão em mim até hoje. Não aqueles, mas seus descendentes. Me transformei na colônia deles. Um país de vermes. Me pergunto como seria a sociedade deles, quais regras e conceitos eles tem. Será que se um deles fosse contaminado com uma doença tão terrível, ele seria aceito, ou seria simplesmente jogado para fora do meu corpo como um pedaço de lixo.
Me levantei entre os sacos e caminhei pela calçada. Era madrugada e nenhuma alma vivente estava por lá - nem mesmo a minha. Ora ou outra algum carro passava por mim. Me sentia ameaçado, mas confortável em saber que eu parecia representar uma ameaça maior. Eu era apenas um homem doente, ensanguentado, com a carne em estado de putrefação; para vocês humanos, apenas mais um mendigo que deveria ser ignorado e deixado lá para morrer. Prossegui a passos lentos sem saber para onde estava indo. Tinha a impressão de que enquanto ficava parado, meu corpo doía mais. Eu ia andar até que a dor parasse.

Uma senhora idosa se aproximou de mim. Estava frio, ela só queria ajudar. Retirou seu casaco, revelando uma camisa verde horrível, feita a tricô e me ofereceu. Eu podia sentir seu cheiro de naftalina.

- Tome meu filho. Já é quase Natal. - A senhora comentava enquanto se aproximava de mim - Jesus não ia querer nenhum de seus filhos comemorando seu aniversário com essas roupas rasgadas. Ainda mais nesse frio.

Ela não parecia ser do tipo que costumava ajudar moradores de rua. Ninguém parece ser desse tipo. Ela parecia apenas mostrar seu espírito natalino. Aposto que se fosse dia vinte e seis ela me veria convulsionar no meio-fio sofrendo com hipotermia  e olharia para o outro lado. Aquele momento foi estranho. Me senti bem por não ser mais dessa espécie tão hipócrita e suja que é o ser humano. Em compensação continuava me sentindo o mais humano possível, estava julgando aquela senhora sem nem mesmo a conhecer.

- Obrigado - Respondi timidamente - Deus lhe abençoe.

Agachei-me para que ela colocasse seu casaco em mim. Ela o fez e parou. Percebi que algo a incomodava.

- Você precisa de um banho, meu filho.
- Eu sei, senhora. Eu sei - Virei-me para lhe confrontar. - Essa é uma das coisas que estão nos meus planos.

Pela primeira vez então aquela velha senhora olhou nos meus olhos. Ou pelo menos um deles, pois o outro, nem eu mesmo sabia onde estava. Em seu lugar, apenas uma cavidade com restos de carne. Aquela senhora tinha os dois olhos perfeitos, lindos, azuis, e transbordando o medo e o repúdio. Compreendi seu medo, mas também senti ódio. Ainda não havia experimentado a rejeição. Fechei meus olhos para acalmar-me. Respirei fundo e preparei-me. Quando abri novamente parecia estar tudo tranquilo. Aquela velha senhora não estava mais lá, mas tudo tinha mudado. Eu me sentia melhor, mais forte, mais ágil. A dor em meu corpo havia sumido. Sentia um gosto estranho na boca, peculiar, meio azedo, mas excentricamente saboroso. Movia a língua pela minha boca para saborear aquele gosto hipnotizante. À minha frente um retalho que pareciam um dia ter sido um corpo. O resultado tinha sido horrível. Não era capaz de reconhecer muita coisa naquele cadáver, apenas uma camisa verde horrível, feita a tricô.

Fiquei desesperado com o que havia acabado de fazer, mas algo dentro de mim, um sentimento incontrolável me fazia querer avançar sobre aquela carne retorcida no chão. Eu não me senti culpado. Apenas achava que tinha que achar que era errado. Não pude me controlar me atirei ao chão enfiando meu rosto no sangue. A carne estava deliciosa. Alguém interrompeu minha refeição. Ouvi uma voz seca gritar:

- Minha nossa... O que fizeram com você?

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Capítulo 2: Unidos pela carne
Capítulo 3: A Ceia
Capítulo 4: Os restos da guerra
Capítulo 5: Fundação
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