sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Creepypasta: Cafeína

Este texto que eu escrevi foi inspirado em fatos reais. Você já sabe o esquema... Coloque seus fones. Desligue a luz e aprecie. Se preferir ler, clique em CONTINUE LENDO, e leia o texto logo abaixo.




"Eu só preciso de mais um gole", Ed repetiu para si mesmo durante os últimos três litros. Aquele líquido preto era mais estimulante e viciante que cocaína. Devido a gravidade do momento, agora, o café era seu melhor amigo.

Ele se sentou em sua poltrona, que parecia mais a Disney World de ácaros, e observou a bolsa no chão, bem a sua frente. As notas de 50 sobre as de 100 produziam um efeito interessante. Ele ainda não havia tido tempo para contar se a sua parte estava realmente correta. Mas afinal, quando estamos falando de 200 mil reais, mil a mais, mil a menos, não fazem diferença.

O plano tinha sido arriscado demais e Ed ainda não tinha se recuperado. Ele deu mais um gole no café antes de olhar pelo olho mágico da porta da sala. Nada de importante no corredor. Apenas um casal desinibido se beijando. Aquilo o fez lembrar do beijo de sua amada. Ela era do tipo conservadora, então beijos era tudo o que tinha a oferecer. Mas era o suficiente para ter sua imagem presa a mente de Ed.

Sabe aquela sensação estranha, quando você pensa em alguém e essa pessoa aparece? O celular de Ed tocou.

- Amor? Você não vai acreditar... Eu estava pensando em você neste exato momento! - Ed atendeu.
- Eu também. Por isso resolvi ligar. - a voz meiga do outro lado respondeu - Sinto sua falta.
- Eu também, princesa. Eu estou preparando um futuro para nós como eu havia prometido.
- Eu estou preocupada. Você sumiu e não me disse para onde ia. Quando você volta?
- Eu estou mais perto do que você imagina, meu amor. Vou estar sempre perto, cuidando de você. O mais rápido possível, nós vamos estar juntos. Está tudo bem com você?
Ela titubeou alguns segundos antes de responder.
- Sim. Está tudo bem sim.

Ele sabia que não estava tudo bem, mas ficar preso ao telefone por muito tempo era arriscado. A policia podia ter grampeado a linha, e só estava esperando algo do roubo ser confirmado, para que eles arrombassem a porta e o trancassem numa gaiola longe da sociedade.

Ele tinha tudo que precisava para se manter longe de qualquer armadilha policial por um bom tempo. Um apartamento antigo, em um prédio esquecido do mundo, onde ninguém pensaria em procurar sequer uma alma viva, e café. Muito café. Ele tinha que se manter acordado para que ninguém o pegasse desprevenido.

Ed parou de contar as horas. Talvez os dias. Ele não era capaz de lembrar há quanto tempo permanecia escondido, nem muito menos, quando havia tomado sua última xícara de café. Mas isso não importava. Sempre era hora de tomar café. Uma angústia e uma tristeza o pegavam de jeito, quando ele abria a garrafa térmica e a via vazia. Apenas com aquele cheiro, que faziam seus olhos revirarem. Energético nunca foi muito a sua praia. O bom e velho café era tudo que ele precisava. Por isso foi à cozinha preparar um pouco. "Só preciso de mais um gole", ele suspirou enquanto caminhava pelo apartamento.

Enquanto abria o armário para pegar o pó, ele ouviu um barulho vindo da sala. Em um primeiro instante, sua espinha gelou, suas pernas enrijeceram, incapacitando-o de se mexer. Em seguida, elas amoleceram, quase não o sustentando. Ele achou que a polícia já havia invadido o local, mas logo caiu em si. A porta estava totalmente trancada, e a força necessária para abri-la com certeza causaria um enorme estrondo. Ele se esgueirou lentamente até o batente e tentou observar. A sua poltrona suja ficava de costas para a cozinha, mas ele foi capaz de ver alguém sentado nela. Seus parceiros já estavam em outro estado, e de qualquer forma, o apartamento era inviolável.

Aquela calça Jeans... Aqueles tênis sujos... Aquela postura largada e despreocupada... Era tudo tão familiar. Os passos lentos e pomposos de Ed o levaram a uma revelação curiosa. Seja lá quem for que tivesse invadido sua casa e sentado em sua poltrona, era exatamente idêntico a ele.

A abstinência de cafeína parecia um motivo plausível para tal alucinação. Talvez mais um gole fizesse aquela visão macabra sair de seus olhos. Antes, Ed respirou, tomou o revólver que repousava na parte de trás da sua calça e a destravou. Alucinação ou não, no menor movimento, ele iria atirar.

Ed não fez nada além de tomar café e observar o dinheiro desde que girou a chave na fechadura e passou as três trancas adicionais. Ele resolveu conferir o tambor do revólver. Eles haviam invadido o banco com um tiro para o alto, mais uma em direção um refém que tentou fugir, e outra para um segurança que reagiu. Ainda lhe restavam três balas na arma. Para Ed, era o suficiente.

Ele se aproximou lentamente. Sua cópia idêntica estava dormindo. A situação toda era estranha, mas aquele clone, ou seja lá o que for, havia escolhido o lugar errado para descansar. Ed levantou a arma e puxou gatilho... Nada aconteceu. Ele puxou outra vez... Nada aconteceu. Não importava quando as vezes, ou com quanta força ele puxasse o gatilho nada acontecia. Ed percebeu que não havia uma arma na sua mão. Agora ele podia sentir o cheiro pútrido que exalava daquela cópia bem a sua frente. A pele também estavava esverdeada e pegajosa. Ele não se sentia mais paranóico. Ele não se sentia mais com sono. Apenas se sentia mais leve.

Mas uma coisa que talvez você não saiba, e que com certeza Ed não sabia, é que a cafeína não te dá energia como muitos pensam. Ela apenas desliga a parte do seu cérebro que está lhe dizendo para dormir. A abstinência após longo consumo, pode e vai te causar um colapso. Sua mente não pode e não consegue ficar tanto tempo ligada. Senão, ela simplesmente, desliga. Mas Ed não precisava mais se preocupar com isso. O café tinha acabado há três dias atrás. Ed finalmente dormiu. Mas não conseguiu acordar.

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